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Rio Amazonas - AM | 1962

35. Paisagem da França​


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22,0 x 29,8 cm  |  Serigrafia aquarelada à mão
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O rio corre tranquilo entre prados férteis. Canaranas¹ aveludadas orlam as margens. Enormes nenúfares flutuam sobre as águas. Vacas de pelo reluzente ruminam à sombra das árvores, e por vezes a brisa nos traz um odor sadio e vigoroso de estábulo e de estrume.

Picardia, Normandia?... Não, nada disso! estamos no Careiro, ou mais exatamente, no Paraná do Careiro, um braço do Amazonas alguns quilômetros à jusante de Manaus. Já viram alguma vez árvores desse porte gigantesco em campos europeus? E não notaram que o gado aqui é mestiço de zebu?

Todos os dias, antes da aurora, uma lancha deixa o cais flutuante de Manaus levando uma carga mista de gente e bagagens. São os ribeirinhos que voltam para casa depois de ter feito suas compras na cidade: farinha, sal açúcar, algumas peças de chita, remédios... Dentro da noite negra como o rio, a embarcação desfila ao largo das luzes da refinaria de petróleo, tocando ao passar ilhotas à deriva.

Subitamente, além, o oriente se acende num deslumbramento de púrpura e ouro. Praias de nuvens se inflamam às primeiras luzes do dia. O rio negro cintila como imenso tapete de veludo escuro semeado de topázios e rubis. O sol sobe rapidamente no céu. As nuvens de fogo se apagam na glória da manhã. O Solimões, de águas lodacentas, nos alcança. É o surgir do Amazonas que se estende a perder de vista. A lancha se aproxima da margem e penetra em breve num canal onde as águas turbulentas se acalmam. Chegamos ao Careiro.
1. Planta gramínea abundante nas margens dos rios da Amazônia, também conhecida como cana brava ou capim d´água.