Santos - SP | 1958
09. Ao longo do cais
28,5 x 20,4 cm | Litografia aquarelada à mão
Eu gostava de passear ao longo do cais nas horas quentes. Os cargueiros tinham nomes exóticos ou familiares. Eles balançavam na marola do canal enquanto os marujos, inclinados na amurada, me lançavam um olhar indiferente.
Às vezes eu subia a bordo, inspirando deliciosamente o cheiro do navio: óleo quente das máquinas, restos de cozinha, desinfetante, um coquetel mais inebriante que qualquer álcool do mundo. Eu imaginava fugas impossíveis para horizontes longínquos.
Mas logo, o mugido do apito arrancava-me dos meus sonhos. Era preciso descer à terra. Então, acomodando-me em uma caixa coberta de inscrições mágicas, eu ficava olhando a agitação dos homens da tripulação. Os cabrestantes rangiam. Largavam-se as amarras que estalavam ao bater na água. Lentamente o navio se afastava do cais, enquanto as gaivotas e os corvos-marinhos deslizavam entre um emaranhado de cordas.

