Santos - SP | 1958
19. Baile no Clube 13 de Maio
21,4 x 28,5 cm | Litografia aquarelada à mão
Em Santos, uma noite de carnaval. Das janelas de uma dessas antigas casas coloniais que rodeiam a praça José Bonifácio emanam, como se do coração da África, os ritmos furiosos do tam-tam. Era o baile da Sociedade 13 de Maio.
Seguindo os passos de duas esplêndidas baianas, avanço pela escadaria, mas dou de frente, na entrada, com um janízaro¹ de sentinela. Os brancos não entravam aqui.
Eu insisti, eu implorei tanto, que, graças a muita subserviência, eu consegui dobrar o rigor da regra. Eu não faria escândalo, ficaria bem comportado atrás da balaustrada que separava o salão do baile, desenharia apenas alguns croquis e partiria assim que acabasse. Autorizaram-me então a ficar, não sem antes pagar a entrada, dois mil réis. Acreditem se quiserem, mas naquela noite, essa módica quantia pesava no meu orçamento.
Mas que espetáculo! Para esses negros que, durante o ano todo, penavam em duros trabalhos, carregadores, lavadeiras, estivadores, cozinheiras, essa noite de carnaval era como uma festa religiosa da qual, vestidos por algumas horas com suntuosos farrapos, eles participavam, revivendo inconscientemente em suas danças os ritos ancestrais do continente africano.
1. Soldado turco da guarda pessoal do sultão.

